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domingo, 17 de novembro de 2013

A uruçu-do-chão (Melipona quinquefasciata) no Nordeste:
extrativismo de mel e esforços
 

para a preservação da espécie

José Everton Alves1, Breno Magalhães Freitas2, Luiz Wilson Lima-Verde3, Márcia de Fátima Ribeiro2 
1 - Curso de Zootecnia, Universidade Estadual Vale do Acaraú
 
2 - Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Ceará.
 
3 - Departamento de Biologia, Universidade Federal do Ceará.


(Algumas partes deste trabalho foram retiradas, veja o original: http://apacame.org.br/mensagemdoce/85/artigo2.htm)

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 

Visando estudar o trabalho dos meleiros no extrativismo de mel da uruçu-do-chão documentamos, por meio de anotações e fotografias, a escavação de um ninho dessa abelha localizado no distrito de Juá, município de Viçosa do Ceará, Estado do Ceará. 

ESCAVAÇÃO DO NINHO 


Em entrevistas com meleiros e criadores de abelhas do município de Viçosa do Ceará constatamos que a urucu-do-chão pode nidificar a profundidades que variam de 40 cm a 4,80 m. A profundidade do ninho e o seu volume dependem das características do cupinzeiro ou formigueiro abandonado ou, ainda, da falha geológica natural que as abelhas encontrarem. A sabedoria popular acredita que, quando tem abeia careca (operária sem pêlos), o buraco é fundo. Em outras palavras, isto quer dizer que, quanto mais fundo o ninho, mais elas têm que caminhar pela galeria raspando-se e perdendo os pêlos de seu tórax. Esta crença não condiz necessariamente com a realidade, haja vista que normalmente as abelhas perdem os pêlos à medida que envelhecem. 


A escavação é iniciada com a introdução de um cipó ou graveto fino na entrada do ninho para servir de guia durante a remoção do solo, que é feita sempre ao lado do túnel de acesso das abelhas, seguindo o cipó. Este trabalho requer grande atenção porque o túnel que leva ao ninho possui muitas curvas e, quando menos esperamos, a escavação pode estar por cima da galeria que aloja o ninho. Isso faz com que o trabalho seja demorado, podendo levar horas removendo terra, cascalho e pedras, principalmente se o ninho estiver muito profundo.





Ao encontrar o ninho, o procedimento dos meleiros é retira-lo com todo o cuidado para em seguida separar os potes de mel e colocá-los em uma vasilha para o consumo, ou para uma oportuna venda do mel envasado. Há uma superstição entre os meleiros em que ao acharem uma rainha devem comê-la viva, pois isso torna a pessoa um eterno achador de abeia. Porém, em nosso trabalho, não permitimos o consumo de nenhuma rainha. 




Na etapa final da coleta do ninho, toda atenção é pouca, pois é preciso chegar ao ninho de forma a evitar que caia terra por entre os favo de cria e os potes de mel. O meleiro sabe da proximidade do ninho quando escuta o barulho mais intenso das abelhas. No nosso caso, a preocupação era capturar e acomodar a colônia em caixa de madeira na superfície do solo. Para isto, tomamos o ninho e promovemos a retirada de areia dos potes de alimento e dos favos de cria os quais foram dispostos convenientemente dentro da caixa. Em seguida fixamos em torno do orifício de entrada da caixa um pouco de cera de seus potes, tornando-a mais atrativa para as operárias. Logo que a grande maioria das abelhas estava no interior da colméia, providenciamos o lacre e os preparativos para o transporte ao local definitivo. Finalizamos, então, fechando o buraco feito no solo, para se evitar acidentes com pessoas ou animais. 


Durante o processo promovemos a demonstração aos nativos dos passos a serem seguidos para que os mesmos assim o fizessem daquele momento em diante, trocando o simples extrativismo pela tentativa de criação e preservação dos ninhos, já que a retirada de mel como é feita irremediavelmente leva à destruição das colônias. 

CONCLUSÕES
O trabalho de extração do mel de M. quinquefasciata por meleiros caracteriza-se por ser árduo (usam as mãos para raspar a piçarra e arrancar pedras), cansativo e arriscado (trabalham dentro de um buraco quente e profundo, de 1m de diâmetro, durante 10 a 12h), nem sempre bem sucedido (podem trabalhar o dia todo e não ter sucesso em localizar o ninho ou obter quantidade satisfatória de mel), perspicaz (há de se ter experiência para não perder o conduto que leva ao ninho) e destrutivo (só retiram uma única vez o mel de um enxame e o destroem, impossibilitando a produção continuada de mel). Assim sendo, o desenvolvimento de técnicas de criatório racional desta abelha pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que exploram seus produtos, bem como contribuir para a conservação da espécie em seu habitat natural. 

Fonte: Mensagem doce 

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